- Ângela Mourão
M.A.P.A.S - Mercado de Artes Performativas do Atlântico Sul
Destino mais que especial: Ilhas Canárias! Momento de precisar melhor as informações esparsas que se tem sobre este arquipélago espanhol que salpica o oceano Atlântico a 200 quilômetros do litoral de Marrocos. Hora de pontuar o M.A.P.A.S. no mapa!
Essas pequenas sete ilhas que formam o arquipélago se encontram numa rota muito frequentada pelos seres humanos desde a antiguidade. Foi em um excelente museu de Tenerife, o MNH – Museu da Natureza e do Homem, que obtive a informação de que o nome do arquipélago foi dado por Juba, rei da Mauritânia que, quando foi dar um rolê pelas ilhas, no século I A.C., voltou para casa levando dois exemplares do que tinha aos montes por ali: cães! Em espanhol canes, daí o nome Canárias. Além de Juba, visitaram essas ilhas muitos povos, principalmente os do norte da África, os berberes, e parece que foi deles a origem dos guanches, os nativos insulares que os espanhóis encontraram quando ali chegaram em 1492, período das mesmas navegações que fizeram a chegada dos portugueses e espanhóis aqui nas Américas Central e do Sul.
Pode ser que esta histórica característica de cruzamento de rotas de navegação, nesta “esquina do mundo”, tenha contribuído para a capacidade de mobilização e adesão que o evento mostrou. Mesmo em sua primeira edição, o M.A.P.A.S. recebeu mais de 100 programadores de diversos países dos 5 continentes e centenas de criadores do sul da Europa, África e América Latina, que foram oferecer seus produtos artísticos, nas áreas de artes cênicas e música.
O evento propiciou 50 apresentações de espetáculos e showcases da Espanha, Brasil, Argentina, Cabo Verde, Etiópia, México, Moçambique, Senegal e Marrocos, tanto em espaços abertos, quanto em seus excelentes equipamentos culturais, como o Auditório, o Teatro Municipal e o TEA – Tenerife Espacio de las Artes.
É claro que, além da característica histórico-geográfica, o Mercado deve seu sucesso a ter sido muito bem produzido e articulado, fruto de parceria entre a produtora cultural local Una Hora Menos, a colombiana Circulart e o Cabildo de Tenerife, que é a instância estatal que governa a comunidade autônoma das Ilhas Canárias.
O Observatório dos Festivais também foi parceiro, nas ações formativas que o evento desenvolveu. Através de convite da organização, o Observatório realizou capacitação com 17 grupos locais das diversas ilhas do arquipélago, com o objetivo de prepará-los para participação em mercados e rodadas de negócio, visando a circulação por festivais, mostras e intercâmbios.
Marcelo Bones, coordenador do Observatório dos Festivais, além de desenvolver a oficina, participou do debate “Experiências de Internacionalização em Economia Criativa”, juntamente com Enrique Vargas, da SEGIB - Secretaria Geral Ibero-americana do Programa Iberescena, Christine Semba, do Womex – World Music Expo, Octávio Arbelaez, da Circulart e diretor do Festival Internacional de Teatro de Manizales, na Colômbia e Norka Chiapuso da Feria de Donostia.
A Rodada de Negócios contou, segundo dados divulgados pelo próprio evento, com 2500 reuniões entre os mais de cem programadores e os seiscentos inscritos para apresentarem suas propostas. Número muito expressivo. Havia entre eles um grande número de criadores locais. Vimos, durante a oficina e rodada, a vontade expressa pelos criadores locais de ampliarem sua circulação para além das ilhas, o desejo de se integrarem à política artística peninsular do país a que pertencem – a Espanha - mesmo estando separados por mais de 1500 Km de mar. Resquícios da colonização do século XV!
Além de tantas belezas como o vulcão Teide, o litoral maravilhoso com várias praias e penhascos que fazem a alegria dos turistas, principalmente europeus, as Canárias criaram agora mais uma atração: as artes cênicas e a música dos três continentes se encontrando por ali.