MITsp sem concessões: Entrevista com António Araujo e Guilherme Marques
Radicalidade foi a palavra chave em nossa conversa sobre a MITsp - Mostra Internacional de Teatro com Antônio Araújo e Guilherme Marques, respectivamente, diretores artístico e geral do projeto. Em sua segunda edição, a Mostra acontece em São Paulo de 06 a 15 de Março e busca a continuidade do sucesso de público e crítica da primeira edição investindo num forte viés pedagógico e curadoria exigente que este ano aborda especialmente fronteiras geográficas e artísticas, zonas de conflito (Israel – Palestina, Rússia – Ucrânia) e o limite entre teatro e cinema.
“Procuramos trabalhar com companhias ou artistas que prezem pela pesquisa que, independente de gosto, tragam certa radicalidade na proposta”, ressalta Araújo. Radicalidade essa que ultrapassa as escolhas curatoriais e se instaura na própria forma de conduzir a construção da mostra. “Tem um desejo meu e do Guilherme de um festival que procura não fazer concessões ou o que é mais fácil” e destaca, por exemplo, certa estética de festivais que tem se configurado no país, “Você percebe que tem um tipo de produção que é fácil, com poucos atores e cenário, assim você cria um tipo e acaba não trazendo espetáculos com grandes cenários, muitos atores etc. A MITsp quer trazer trabalhos que são importantes, independente do formato.” A exemplo dessas facilidades, Antônio Araújo conta que na edição passada recebeu uma oferta de apoio total para determinado espetáculo, mas que não atendia às suas expectativas para a Mostra. “Eu vi o trabalho e não ele era ruim, mas não era especialmente relevante, então eu não topei” esclarece o diretor.
Senhorita Júlia (foto: Thomas Aurin)
Na MITsp também não há espaço para escolhas quantitativas, no olhar do diretor artístico “Os festivais viraram muito mais feira do que um lugar de encontro, diálogo e reflexão. Alguns começaram a se pautar por certo gigantismo de quantidade de obras e acho que isso é um problema” para ele o resultado de opções assim acabam sendo festivais cada vez mais genéricos, ou que querem dar conta de tudo (espetáculos de circo, dança, teatro, rua etc.), “Quando você quer da conta de tudo, você vira nada e é isso, os festivais estão virando nada”. Para ele, na MITsp, “A ideia é fazer um festival com menos obras, mas relevantes e que o público possa, se quiser, acompanhar todo o festival”.
Público esse que ganha destaque na proposta da Mostra e desponta como um dos diferenciais da MITsp “Queremos que o espectador saia da passividade e interaja diretamente com a cena”, destaca Guilherme Marques chamando atenção ao Olhares Críticos, eixo pedagógico do evento composto por sete ações que vão de mesas de discussão à produção de textos críticos e acadêmicos. “O Olhares Críticos é importante como qualquer atividade, não é uma extensão do festival, é o festival. Tem a mesma importância de um espetáculo” diz Guilherme que perguntado sobre a inovação dessa proposta destaca “Se é inovador ou não eu não sei, mas tem chamado a atenção.”
Dentro dessas atividades destaca-se ainda o “Diálogos transversais” que traz após uma apresentação de cada espetáculo um pensador ou artista de outro campo do conhecimento, que não o teatro, para construir junto ao público uma crítica sobre a obra recém-assistida. Entre os convidados estão nomes como José Miguel Wisnik e Ismail Xavier.
A segunda edição da Mostra Internacional de Teatro acontece em 8 espaços da cidade e traz em sua programação 10 espetáculos, sendo 2 brasileiros e 8 internacionais (Rússia, Ucrânia, Suíça, Alemanha, Israel, Holanda e Itália), alguns ainda com ingressos disponíveis, e os Encontros Formativos com workshops e aulas-conferência, para as quais não é mais possível inscrever-se.
Essa edição traz também a estreia mundial de sua primeira coprodução internacional, com a Holanda, o espetáculo Canção de Muito Longe, dirigido por, Ivo Van Hoye.
Para saber a programação completa e mais informações da MITsp acesse: mitsp.org
Canção de Muito Longe (foto: Jan Versweyveld)