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  • Ângela Mourão

1ª Feira de Bonecos de FAFE/Portugal: uma experiência novinha em folha


​O nome é Fafe. Cidade no norte de Portugal. Pequena para nossas referências latino-americanas: 15 mil habitantes na sede e 40 mil na soma de todas as freguesias, que são os distritos, como conhecemos no Brasil. Uma típica cidade portuguesa, com certeza. Lindo e preservado casario antigo, várias construções medievais e muitas casas dos séculos XVIII e XIX com azulejos, claraboias, vinhas e couves nos quintais. Povo muito festivo, dado a eventos culturais e sociais. Hoje mesmo, domingo, dia 10 de julho, a cidade está em festa. Emendou a 1ª FEIRA DE TEATRO DE BONECOS E FORMAS ANIMADAS com a grande festa anual da cidade, impulsionada por motivo religioso - dia da famosíssima Nossa Senhora de Antime - animada por enorme procissão, missas, cânticos, orações, mas também, bandas, orquestras, shows, corridas e parques de diversão.


Pois é esta vocação festiva e cultural da cidade que faz com que nos últimos anos – no auge da crise econômica e ainda agora, na sua saída – que o poder público mantenha a plataforma FAFE – CIDADE DAS ARTES. Este projeto desenvolve cotidianamente oficinas teatrais, espetáculos, residências artísticas, intercâmbios e foi ele que realizou, de 07 a 09 de julho, esta 1ª Feira, inédita por aqui e por toda Portugal e que contou com a parceria do OBSERVATÓRIO DOS FESTIVAIS tanto na programação, quanto na organização e coordenação da Rodada de Negócios entre artistas e programadores. Era pra ser uma mostra de 20 espetáculos, que logo viraram 42, tamanha era a vontade de tantos artistas em chegarem a Fafe para compartilhar suas obras, que cobriram diversas técnicas e expressões da linguagem dos bonecos e objetos. Portugueses do norte e do sul, espanhois da Galicia, Castilha e Leon e outras comunidades, diversos brasileiros de todas as regiões do Brasil (sul, sudeste, nordeste, centro-oeste e amazônia), duas gregas muito simpáticas e talentosas e um artista sírio, que trouxe o grito de denúncia da guerra em seu país, aliás, única voz politizada de toda a Feira.


Os três dias foram muito bem preenchidos, com funções de 10 às 22hs, por apresentações no lindo Teatro Cinema da cidade, em dois teatros municipais menores, em salas improvisadas na Casa de Cultura e na praça central, que, pelo grande calor do verão, foi ótima alternativa para as diversas caixas, espetáculos de espaço aberto e de pequenos formatos.


Além disso, a Feira promoveu uma oficina com importante artista brasileiro que vive em Bruxelas, que mistura bonecos com dança, que resultou numa interessante e inédita, para ele mesmo, mostra final, apresentada em palco na praça, com requintes de espetáculo.


Promoveu também a participação de artistas amadores das Freguesias de Fafe, que criaram e apresentaram obras ligadas às tradições locais. O caráter de Feira se deu pela presença de programadores brasileiros, entre eles o diretor do maior festival de teatro de bonecos do Brasil e dois outros de importantes festivais em Brasília e no Ceará; a representante de cultura do poder público municipal de Aracaju; uma produtora portuguesa de Lisboa, além de alguns programadores espanhois e o diretor da COFAE, a Confederação de Feiras de Espanha que apresentou a experiência dessa importante coordenação da rede espanhola nacional deste tipo de evento, muito difundido na Espanha. Este país tem uma estrutura peculiar de distribuição de artes cênicas, na qual as salas e eventos municipais e regionais são encarregados das maiores ações de circulação do país. Por isso as Feiras são importantes e efetivas, e recebem grande afluxo de programadores de salas e de mostras à procura dos espetáculos que poderão ser comprados para seus teatros e eventos.


A 1ª Feira de Portugal, realizada em Fafe, é ousada e inovadora no país. Inaugura uma nova possibilidade de se falar em teatro na imprensa portuguesa, em estimular novos públicos, em difundir os bonecos e formas animadas. Mas também traz em si uma tendência que preocupa programadores: uma certa banalização das criações com bonecos e objetos, uma baixa qualidade técnica e dramatúrgica, uma possível simplificação da linguagem. Não foi um privilégio da Feira de Fafe, esta tendência tem sido vista até nas grandes feiras e festivais do ramo aqui na Europa, é o que nos disseram.



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