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  • Ângela Mourão

Festival de Manizales, Colômbia










O Observatório dos Festivais não se contém e não se rende às fronteiras geográficas que delimitam o Brasil e o separam, por mar do velho mundo e por florestas e montanhas da latino-américa.

Por isso, partiu Manizales!

Depois de longa jornada continente adentro com sete meios de transporte (carro, ônibus, avião, ônibus, outro avião, ônibus, outro avião e carro) o OF chegou a esta cidade andina - colombiana.

Que estatura, que porte, que postura, 36 anos de idade são capazes de promover! Um festival, 23 a 31 de agosto, não tão grande em proporções, mas em organização, em curadoria, em capacidade de juntar artistas e gestores de toda latinoamérica, mais precisamente ibero-américa, ou melhor ainda, eurolatinoamérica!

Em uma cidade de 450.000 habitantes, o festival teve público de 87.000 pessoas em 151 apresentações ou seja, 20% de todos os cidadãos da cidade! E isso pôde ser visto a olho nu: teatros lotados em todas as sessões, com longas e alegres filas cheias de gente jovem, pelas ruas esperando o momento da entrada.

A programação apresentada em vários teatros, auditórios, rua, circo e espaços alternativos, contemplou desde a tradição teatral latino-americana até ousadias contemporâneas.

O uruguaio El Galpón, homenageado por seus 65 anos de existência ininterrupta, o mais antigo da latinoamérica, não só apresentou seu mais novo espetáculo como também nos presenteou com uma solenidade onde contou suas histórias desde a fundação em 1949, com o diretor e mestre Atahualpa del Cioppo, passando pelo exílio de oito anos de 1976 a 1984 no período da ditadura uruguaia, durante o qual desenvolveu uma grande ação artístico-política de resistência mundo afora, chegando a atualidade de sua sede com três teatros somando 1.200 lugares. Por outro lado, o espetáculo Distância trazia ao palco a banda que executa a trilha ao vivo, enquanto as atrizes se apresentam por meio de projeções de telas de computador que as transmitem a partir de Buenos Aires, Paris, Nova York e Hamburgo. Ou seja, a trilha sonora ao vivo e o teatro mecânico!!

Várias expressões de Shakespeare, dentre elas a que tive o prazer de assistir – Algo de Ricardo – espetáculo uruguaio dos artistas da Complot, um grupo, não de atores que convidam diretores, conforme o costume, mas de diretores e dramaturgos que convidam atores!

O México foi o país convidado, representado por quatro obras e a Colômbia também esteve presente com vários espetáculos, inclusive com o mais recente do La Maldita Vanidad, o Matando El Tiempo, em uma locação mais que bela, perfeita!

Para além da cena, 60 convidados, sendo 45 estrangeiros, participaram de diversas atividades, entre elas: Seminário de Diretores Teatrais, Seminário Shakespeare na América Latina, Workshop especializado de treinamento para atores, Fórum de Teatro Mexicano Contemporâneo, Conferência sobre Gestão das Artes (todos com inscrições abertas também, é claro!). E ainda o Seminário Redes de Artes Cênicas na Iberoamérica e o Encontro da Rede Euro-latinoamericana de Festivais, para os quais o Observatório foi convidado.

O Seminário de Redes nos colocou em contato com várias experiências interessantes espalhadas pelo continente, incluindo os Estados Unidos, de onde veio uma organização muito interessante, a NPN (National Performances Network), uma associação da sociedade civil, que reúne 71 membros em autogestão, que organizam turnês de espetáculos estadunidenses na América Latina e vice-versa. Essa rede luta contra a marginalização dos artistas nos Estados Unidos e tem como um de seus compromissos não prescindir, em nenhuma ação, do pagamento de cachês aos artistas que, segundo Elizabeth Doud, não é algo sempre garantido...

E por aí afora, muitas experiências interessantes, entre elas a CETA, rede de grupos de teatro argentinos para realização de circuitos internacionais e a Platô - Plataforma para Internacionalização do Teatro, formada pela união de quatro grupos mineiros de teatro.

A REDELAE - Rede Euro-latinoamericana de Artes Cênicas surgiu em 2013 quando gestores e diretores de diversos festivais se encontraram em Bayonne, pequena cidade francesa que realiza um festival de teatro latinoamericano. Este foi o segundo encontro. A Rede tem como objetivos: o compartilhamento de informações entre seus membros, apoio e formação na gestão dos festivais, apoio curatorial e ações conjuntas como a realização de circuitos e coproduções, busca de patrocínios e apoios conjuntos, tudo isto com o objetivo de promover a circulação do teatro latino-americano na própria América e na Europa. Seus membros são diretores e gestores de aproximadamente 20 festivais, em diversos países da América Latina e Portugal, Espanha, França (Festival Les Translatines em Bayonne) e Inglaterra (Festival CASA em Londres). Pretendem se encontrar uma vez por ano, em algum dos festivais que realizam e construir pouco a pouco ações conjuntas, incluindo a apresentação de projeto a edital da União Européia para estruturar a comunicação virtual. Embora a Rede tenha caráter aberto, horizontal, distributivo e pretende ser um instrumento de fortalecimento da produção do teatro latino-americano, ela pretende se organizar juridicamente.

Taxada de utopia por uns e déjà-vu por outros, o fato é que a rede responde à vontade e à necessidade detectada por todos de estar em contato, realizar compartilhamento nem que seja das dificuldades e estabelecer laços de união que possam ajudar cada um a avançar na sustentabilidade de seus projetos artísticos.

Falando ainda predominantemente espanhol, penso que o português já se faz presente, e caminha para ser também uma língua oficial dessa importante iniciativa solidária de construção de um espaço cultural comum euro-latinoamericano.

Ângela Mourão

pelo Observatório dos Festivais

Festival Internacional de Teatro de Manizales, Colômbia

23 a 31 de agosto de 2014

Periodicidade anual

Direção artística e geral de Octavio Arbeláez

www.festivaldemanizales.com


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