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  • por Moncho Rodriguez

Feira de Castilla y Leon na Espanha

















Um meu vizinho, aqui do lado do invisível, apareceu o outro dia para tomar um café e, com um ar muito assustado, começou a sentenciar frases lapidares que por pouco me deixam arrasado. Dizia ele com voz grave de quem tem um profundo saber daquilo que diz: “ O mundo inteiro está em Crise! Europa está em Crise! O país (referindo-se a Portugal claro) encontra-se no limite da Crise! As pessoas estão a viver numa terrível Crise!” “A Crise, está em profunda Crise!” ...engoliu o café, fez um aceno de confirmação com a cabeça, calado ficou e lá se foi porta a fora para o lugar de onde suponho que veio e acredito que com tanta crise dificilmente conseguirá voltar a visitar-me. Logo que fiquei só conclui: Não deixa de ter toda a razão, infelizmente. Foi no meio desse pensar repensado que recebo uma chamada onde se anunciava a 17ª FERIA DE TEATRO DE CASTILLA Y LEON – Ciudad Rodrigo (Espanha) e para lá rumei...


La Feria de Castilla y Leon en Ciudad Rodrigo, num primeiro olhar, mostrou de forma palpável aquilo que há muito tentamos provar, que a cultura é uma força propulsora de renovadas economias. Neste momento crítico da economia europeia, Ciudad Rodrigo estava repleta de turistas, públicos vindos de todos os lugares, gentes que enchiam as praças, os restaurantes, bares, hotéis (difícil encontram um lugar vago) e principalmente as salas de teatro onde se programavam os espetáculos da “Feria”. Festa da cultura, festa dos atores e do público. Um projeto organizado pela associação CIVITAS, com mais de 17 anos de experiência, com uma programação bem cuidada e o principal, uma comunicação aberta e fluida com participantes e espectadores. CIVITAS conseguiu envolver a comunidade de Ciudad Rodrigo ao ponto de que todos se sentem não apenas participantes mas também anfitriões do acontecimento.


Sem que houvesse uma temática predeterminada para a escolha ou seleção dos espetáculos, na sua grande maioria as dramaturgias debruçaram-se sobre a arte do ator. O Ator como primeiro protagonista do Teatro. Os espetáculos pareciam querer reivindicar a consciência da importância e o momento do ator, resgatando a sua posição e sua função na sociedade.

Coincidência ou não, essa necessidade temática apresentada nas criações e produções artísticas revela o momento crítico em que o ator, o teatro, a arte de forma geral necessita repensar-se para estar presente no mundo contemporâneo. Como se tivéssemos voltado 400 anos na história, aqui estão os atores a dizerem mais uma vez quem são, porque são, para que são. Aqui está o Teatro a falar do teatro, recontando a sua essência. Medo? Apreensão? Eu diria “tomada urgente de consciência” renovar o olhar do ator para o público. Voltar a entender que o teatro não pode existir sem o ator e o espectador.


Propostas poéticas porem sem os efeitos “pirotécnicos” que ultimamente parecem querer tomar a cena e roubar ao ator a sua função de protagonista. Que bom! desta vez, os efeitos cénicos , os malabarismos virtuais e outros efeitos de distração visual não ocuparam o lugar do ator. Será esta a nova tendência do teatro contemporâneo? Foi a da FERIA DE TEATRO DE CASTILLA Y LEON en Ciudad Rodrigo. Foi a grande festa do Ator e do Espectador. Foi a festa do Teatro.


Ah!, agora quando voltar a encontrar esse meu vizinho do invisível aqui do lado, vou poder dar-lhe uma boa nova: a Crise esqueceu de visitar Ciudad Rodrigo. Quem sabe o teatro fortaleceu as muralhas da cidade e não permitiu que ela entristecesse o sol. Quem sabe não será esse o caminho para aplacar essa sombra negra que tanto assombra a Europa de hoje.




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